Em 2009, cheguei a Montevidéu para a cobertura de um Uruguai x Argentina e peguei o primeiro táxi que apareceu no aeroporto de Carrasco. O taxista era esse senhor da foto. O que eu não podia imaginar era quem ele era.
Saímos do aeroporto, começamos a conversar, e ele logo percebeu que eu era brasileiro. E então passou a falar comigo em um portunhol que pendia para o português. Elogiei-o pela fluência e perguntei se ele já tinha morado no Brasil.
Ele me olhou pelo retrovisor, claramente orgulhoso, e respondeu:
- Morei dois anos lá.
- Ah, é? - continuei. - Fazendo o quê?
- Jogando futebol pelo Cruzeiro.
Acionei o dispositivo automático do jornalista: desconfiei. Emendei perguntas. E a história ficou mais esquisita: ele disse que não tinha apenas jogado no Cruzeiro - tinha jogado com Tostão. E aí, talvez ciente da minha incredulidade, espichou a mão direita e catou uma pasta.
Na pasta, estavam fotos dele, o ex-atacante Roberto Repetto, excursionando com o elenco do Cruzeiro pela Ásia no começo dos anos 70. Ele vestia um terno azul, da cor do clube, e posava ao lado de outros jogadores.
Repetto me disse que admirava Tostão, "um craque", mas que seu espanto era maior com Dirceu Lopes.
- Nunca vi ninguém igual a ele.
Repetto contou que deu certo azar no Cruzeiro. Pegou uma época em que só era permitido um estrangeiro por time em cada jogo, e o elenco já tinha o lendário zagueiro argentino Perfumo. Por isso, pouco atuou em partidas oficiais. Foi mais usado em amistosos - como os da excursão.
Depois do Cruzeiro, Repetto rodou por México e Venezuela e voltou ao Uruguai para jogar no Nacional. Também tentou ser técnico, já nos anos 80, mas não deu muito certo. Acabou virando taxista. Disse que tem saudade de Belo Horizonte e do Brasil, onde gosta de passar férias.
Depois que ele me deixou no hotel, claro, escrevi uma matéria sobre ele. E guardei a história na memória. Uns dois anos depois, para outra cobertura em Montevidéu, peguei um táxi, e, perplexo, vi tudo se repetir: o motorista me olhou pelo espelho e perguntou se eu era brasileiro.
Ele, naturalmente, não me reconheceu. Achei que o melhor naquele momento era responder com outra pergunta:
- O senhor não é o grande Roberto Repetto, que jogou no Cruzeiro?
O sorriso que ele deu fica como meus parabéns à torcida do Cruzeiro pelos 100 anos, comemorados hoje. :)
Submitted January 02, 2021 at 08:12PM by maathiasb https://www.reddit.com/r/futebol/comments/kpbcpr/em_2009_cheguei_a_montevid%C3%A9u_para_a_cobertura_de/?utm_source=ifttt
No comments:
Post a Comment